Bastou Guilherme Arana perder o último pênalti e sacramentar a queda do Corinthians na Copa do Brasil para uma enxurrada de críticas, nas redes sociais e nas mídias esportivas, serem endereçadas ao técnico Fábio Carille. “Esquema de jogo medroso”. “Time que joga em casa recuado tem que se f.. mesmo”. “Não pode o Corinthians na sua Arena ficar atrás da linha da bola, esperando o adversário”. “Tem que atacar pra passar de fase”. Esses foram apenas alguns dos muitos pontos negativos exaltados por torcedores e comentaristas, após a partida terminar. São todas frases de quem tem preguiça de enxergar o futebol como um conjunto, de quem prefere comentar em cima de um momento ao invés de analisar todo o contexto.

Fábio Carille assumiu o comando técnico do Corinthians sob muita desconfiança e descrédito, principalmente por já ter treinado o Timão por algumas rodadas no Brasileirão do ano passado – e não ter ido bem. Parecia ser mais um daqueles técnicos com “prazo de validade”, que seria demitido na primeira dificuldade ou eliminação. O treinador ainda teve que lidar com o fato de ter um dos elencos mais fracos do Corinthians nos últimos anos, sendo considerada a “quarta força” do futebol paulista, em termos de qualidade dos jogadores. E superou tudo isso.

Discípulo de Tite, Carille montou um esquema defensivo muito bom, com um padrão de jogo bem definido e com cada jogador tendo bem clara a sua função tática dentro de campo. Com um elenco mais frágil tecnicamente, Fábio abdicou de propor o jogo para explorar contra ataques e sofrer o menor número de gols possível para sair com as vitórias de dentro de campo. Contra os times pequenos no Paulistão, sofrimento em algumas partidas, mas o Corinthians conseguiu se classificar sem sustos em seu grupo. Já contra os grandes, desempenho fenomenal: em quatro clássicos, três vitórias e um empate, com uma consistência defensiva impressionante e sofrendo pouco nas partidas. No último domingo, vitória por 2 a 0 contra o São Paulo na semi do Campeonato Paulista e, ali, só elogios. “Anulou o Tricolor”. “Controlou o jogo”. “Se defende com maestria”. Apenas três dias se passaram e agora tudo isso está errado? O que era “controle de jogo” virou “esquema medroso”? Não, não é assim.

No confronto contra o Internacional, o Corinthians foi superior na maior parte dos 180 minutos. Teve chances de vencer em Porto Alegre, com Maycon e, especialmente, Giovanni Augusto. Mesmo o time porto-alegrense tendo mais posse de bola, Marcelo Lomba, o goleiro do Inter, foi o destaque da partida no Beira Rio. Em Itaquera, gol e chance perdida cara a cara com apenas nove minutos de bola rolando. O Corinthians era bem melhor quando a partida foi paralisada por conta dos sinalizadores – da torcida ter atrapalhado o melhor momento da equipe no jogo ninguém fala, né? Quando o jogo foi retomado, uma postura mais defensiva e cautelosa foi adotada, e o Timão teve a chance de sair nos contra ataques. Falhou, devido à forte marcação do Inter no campo de ataque e graças às atuações apagadas de Rodriguinho e Jadson, errando passes decisivos nos contra ataques. No segundo tempo, após belo lance de Romero, Rodriguinho perdeu mais uma chance para o Corinthians, que sacramentaria a classificação. Mesmo após o empate, com o gol contra de Fagner, Jô e Clayton tiveram ótimas chances, na cara da meta de Marcelo Lomba, e não aproveitaram. Nos pênaltis, a incompetência corintiana falou mais alto e o Inter saiu de campo com a classificação.

Colocar a eliminação na conta de Carille é bizarro. O treinador faz um ótimo trabalho com o time que tem à disposição, fazendo do Corinthians uma equipe equilibrada e extremamente competitiva. Com o elenco entregue a ele pela diretoria, esse é o máximo que um treinador poderia fazer. O Timão sai da Copa do Brasil sem perder, com uma vantagem enorme nas semi-finais do Paulistão e com um esquema de jogo que é comprovadamente eficaz em pontos corridos, especialmente no Campeonato Brasileiro. Paciência, corintianos. Vamos com calma nas críticas a Fábio Carille. Ele pode não ser – e não é – o melhor treinador que o Corinthians já teve, mas é o melhor treinador que o Corinthians poderia ter para esse momento de elenco reduzido e apostas na base.

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