Por João Gabriel Falcade

Eu não sou o Mauro Beting. Não sei escrever como ele sabe. Não consigo paragrafar amor pelo Palmeiras da mesma forma que ele consegue. Amor pelo Palmeiras. Nisso, eu sou igual a você, ídolo. Igual a você, a você, a vocês todos, irmãos de Palestra. Se há no mundo alguma coisa que independa de capacidades específicas e habilidades extra curriculares, ela se chama amor.

Por mais que não exista amor em SP, por mais que sejamos suspeitos desse crime perfeito que é escolher uma instituição de futebol para ser dona de nossos mais sinceros desejos, nossos mais dedicados minutos e nosso mais incompreensível amor, crimes perfeitos não deixam suspeitos e não há problema algum em musicalizar um parágrafo que explica melodicamente o que sentimos. Mauro Betizar esse dia.

Cento e três, Palmeiras. Só compartilhei 23. Meu pai, mais de 50. Foi ele quem me deu você. Sou grato. Verde, na prática. Cresci na série B. Desenvolvi meu caráter torcedor vendo esquadrões terrivelmente ruins. Nos grandes momentos passados, era uma criança que pouco entendia. Gostava, mas não conseguia assimilar. Talvez por isso, ao lado do cara que viveu toda a glória, ia feliz ao estádio para ver aquele 1 a 0 sobre o Paysandu, gol de Pedrinho, o primeiro pênalti que o Palestra dividiu comigo. Lá no gol das piscinas. Que grande memória. Pequena, no futebol. Sem precedentes, no meu coração. No nosso, em cada caso. Em cada história.

Não serei eu irresponsável de versar aqui sobre as academias, as nove das quais só vi a última. O Palmeiras que fez a minha geração honrar nossos antigos nos forjou na dor. No problema. Cresci com meu rival tricampeão brasileiro, o outro campeão da América, bi nacional. O pior deles, no século mais vitorioso da vida. O meu? Vivíamos de sonho. Sonho de dias melhores, de times melhores, de anos melhores, laterais esquerdos melhores, um centroavante que não tropeçasse na bola. Era pedir muito? Talvez fosse. Mas eu adorava. Cada conquista tão pequena me soava gigante. Éramos nós por nós. Eu pelo meu sonho.

O Palmeiras de 2008 foi o deserto. Não era real que o meu time fosse capaz de contratar nomes relevantes. Não era real que tivéssemos mesmo condições de ser a força principal de uma disputa. Parecia um grande engodo. Foi a primeira grande festa que tive. Pouco para os mais velhos que me acompanhavam, mas foi.. puts! Foi de chorar do primeiro gol do Alex Mineiro até a corridinha do Vanderlei, aos 45 minutos. Não queiram entender, vocês simplesmente sentem, eu sei que sim. E acabou, como água.

2009 e a gente viu um rio. Caminhou terra adiante, metro por metro e era mesmo um rio, tinha tudo pra ser. Cada passo, mais evidente. Quando esticamos o braço para molhar os olhos, era areia. Era ilusão. Era fracasso. Era Vagner Love, era Muricy, era a contusão do Pierre. Eram os gols do Petkovic no Palestra abarrotado de esperança. Era o título brasileiro mais perdidos dos nossos, a época, quase 100 anos. Era a fila que poderíamos deixar pra trás, mas deixamos mais pesada sob nossas costas. Era só mais um tijolo na construção diária que é amar um time de futebol.

10, 11.. nada. Palmeiras, como sempre. Nada, como sempre. A confiança rareava. Os problemas, cresciam. 2012, um título. Um puta de um título. Ninguém esperava que Felipão poderia, outra vez. Pode. Eu fui e vi com os olhos que a terra há de comer. Olhos que expulsaram lágrimas de alívio. Campeão nacional. Que sensação. Sensacional. Sem saber o que significava, até então, foi viver o êxtase. Alegria vã, de certa forma. Meses depois e a Palmeiratocracia da vida nos levou, como numa barca de volta pro inferno, sem Gil Vicente, a uma volta na segundona. Que grande merda foi 2013. Não darei a ele um parágrafo. Nem estádio passaríamos a ter. Sem rumo, sem casa, sem quase nada. Restava o amor. O meu e de cada um da nossa família, Palmeiras. Tivesse sido no Pacaembú, como foi a final na Arena de Barueri. Sempre fomos nós. Siamo noi.

2014. Só uma linha. Sofrimento. Sofrimento. Sofrimento. A única vez que fui ao hospital por sua causa. Obrigado, Thiago Ribeiro. Foi só uma arritmia. Hora de parar esse texto. Sabe porque fiz essa linha? Porque foi ela quem encheu o Allianz Parque nos títulos de 2015 e 2016. Foi ela que abarrotou a Avenida Paulista naquele 03/12/15. Naquelas madrugadas regatas a muita bebida, festa, lágrimas e desabafo. Nirvana mesmo. Forjamos nossa festa com muita porrada na cara. Choramos ontem o nosso rebaixamento para chorar a volta ao trio elétrico. Ganhar sempre, é foda. Ganhar depois de muito tempo, meu amigo, é bom pra caralho. Vocês não sabem o quanto…

Sabe, Palmeiras, hoje é teu aniversário. Parabéns! Eu amo você. Nós todos te amamos pra caramba. Mais do que deveríamos. Muito mais do poderíamos. Mas aqui fica um pedido e um recado: a gente vai estar aqui como acontece desde que eu me reconheça por gente, eu vou estar contigo domingo. Mas volte! Volte a comemorar cada bola dividia. Não comemore renda. Não comemore seguidores no Twitter. Comemore a travada no adversário. Como é a nossa história. Eu, e cada torcedor que escreve comigo esse texto, gosta mesmo é de você. Pro seu dinheiro, a gente não liga a mínima.

Até domingo! Conte conosco.

 

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