Parafraseando Renê Simões, que em 2010 disse que estávamos criando um monstro, começo este relato para falar mais precisamente sobre o Cartola FC, fantasy game da Rede Globo que vira assunto em todo início de Campeonato Brasileiro.

Antes que comece o “mimimi” e o ódio precoce contra a pessoa que vos escreve, esse desabafo não é uma afronta ao jogo, muito pelo contrário. Eu jogo o Cartola desde 2009 e sempre achei uma ideia muito legal de quem o criou, sigo participando neste ano e vejo que a brincadeira têm pontos bem legais, como o conhecimento de jogadores e a parte de scout (estatísticas) que pode até ser usada por times que não possuem uma estrutura tão forte, como a das grandes potências da Série A.

Estou aqui para falar especificamente sobre o comportamento que esta plataforma vem gerando em alguns participantes do game. O Cartola, como jogo, é sensacional. Mas é apenas um jogo, e como diz o nosso bom e velho amigo dicionário, jogo é ‘uma atividade cuja natureza ou finalidade é a diversão, o entretenimento’.

Após algumas edições, pessoas começaram a apostar dinheiro e prêmios na brincadeira, o que considero até válido para deixar a competição mais atraente e séria. O problema é que muitas vezes isso acaba transformando o Cartola em algo mais importante do que o próprio campeonato em si.

Você prefere ganhar aquela liga que vale mil reais no final do ano, ou ver o seu time campeão Brasileiro? Alguns  escolheriam a primeira.

Precisamos aprender a separar e ter muito bom senso diante de algumas situações do nosso cotidiano futebolístico. Não dá para aceitar ver jogadores sendo cobrados em redes sociais pelo seu desempenho no fantasy, muito menos ver torcedor carregando o game para a arquibancada, onde não é o lugar dele.

É comum em estádios você ver uma pessoa vidrada no celular tentando acompanhar quem fez o gol na outra partida, quem deu assistência, quem foi expulso, sendo que o mais importante naquele momento é o campo, o desempenho do seu time, a luta pelos três pontos. Pense bem: o que realmente vale mais?

Chegaremos ao dia em que veremos alguém comemorar um gol contra o seu próprio clube por causa do Cartola. Será a cereja do bolo do já transmutado torcedor brasileiro, que sofreu um grande choque com as modernas e elitizadas arenas.

Quando você está mais preocupado com o sucesso pessoal do que o sucesso do seu clube, o futebol perde um pouco da sua essência.

Nesta primeira rodada do Brasileirão 2017, o Cartola atingiu um novo recorde de participantes. Mais de 4 milhões de times foram escalados, para se ter uma ideia, número maior do que a população do nosso vizinho Uruguai. É realmente um monstro que a cada dia se torna mais poderoso.

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